terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

Cristianismo de qualquer jeito?

Sucesso, prosperidade material, conquistas pessoais e conforto individual parecem bandeiras de alguma vertente capitalista, ou até mesmo de uma filosofia egocêntrica, como o Objetivismo de Ayn Rand. Mas não são só isso. São slogans de famosas e crescentes denominações ditas  evangélicas. E com tais pilares em sua teologia arrebanham multidões em busca de felicidade e fim do sofrimento pessoal. Deus, dizem eles (às vezes nas entrelinhas, às vezes descaradamente), tem a obrigação de cooperar para o sucesso pessoal de quem está comprometido com os “interesses do Reino”. Remetem à época das Cruzadas e das indulgências, reconfiguradas para um “segundo tempo”. Se aproveitando do fetiche brasileiro por amuletos, comercializam água, sal, rosas, lenços, lâmpadas, e uma infinidade de objetos que garantem o bom sucesso das campanhas pró-felicidade. E assim legitimam os anseios e cobiças mais bizarros, despertam o pior lado do egoísmo humano e deturpam feroz e sutilmente todas as mais essenciais bases dos ensinamentos de Jesus.
Muito longe disso, encontram-se Jesus Cristo e seu evangelho de amor e graça. Há dois milênios atrás, sua pregação já era subversiva e frequentemente gerava desde desconforto até extrema irritação. Não hesitou em virar as mesas daqueles que faziam comércio no templo de Deus, chamando-os de ladrões. Não titubeou ao sugerir que um jovem rico vendesse tudo o que possuía e doasse aos pobres para que então pudesse segui-lo. Sem eufemismos, disse a dois discípulos que queriam destaque que aquele que quer ser grande deve se tornar o menor, o servo de todos. Prometeu uma cruz a ser carregada a quem quisesse segui-lo e afirmou que somente mediante o arrependimento podemos ver o Reino dos Céus.
 Ao comparar esses discursos se percebe claramente que possuem diferentes freqüências, diferentes fontes. Soam diferentes porque possuem interesses e prioridades distintas. Não há relação entre eles e, ao contrário do sincretismo comercial assumido pela teologia da prosperidade, Jesus não admite coadjuvantes em sua obra salvadora: “Ninguém vem ao Pai a não ser por mim” (João 14:6). Só quem deposita extrema confiança e amor no dinheiro pode achar que alguns trocados ofertados podem nos gerar bênçãos divinas. O cristianismo inaugurado em Jesus aponta para uma vida inteira sob os cuidados de Deus. Aponta para o arrependimento de obras mortas e a reconciliação com Deus através de Jesus. “Não será assim entre vocês. Pelo contrário, quem quiser tornar-se importante entre vocês deverá ser servo, e quem quiser ser o primeiro deverá ser escravo; como o Filho do homem, que não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos” (Mateus 20:26-28).