domingo, 7 de setembro de 2014

O escândalo de João Batista

Uma dos relatos neotestamentários mais provocativos é o que se encontra no evangelho de Mateus, nos primeiros versículos do capítulo 11. Trata-se de um questionamento do profeta João Batista com relação ao ministério de Jesus. João estava preso, por denunciar os pecados do governador Herodes, e de sua prisão envia alguns discípulos seus interrogar Jesus: “És tu aquele que havia de vir ou esperamos outro?”. Essa pergunta é um tanto quanto interessante, pois revela uma dúvida conceitual de João: seria Jesus o libertados prometido por Deus? Para avaliar o teor do questionamento, precisamos entender o contexto histórico e religioso da época. Os judeus esperavam um enviado divino para trazer libertação, sobretudo política, e assim restaurar o Estado de Israel. Jesus, no entanto, apesar de seus feitos e discursos notáveis, não caminhava para essa direção. Certamente João não duvidava da pessoa de Jesus, nem de que ele era o filho de Deus (ele mesmo ouvira a voz de Deus em testemunho a esse fato). Sua expectativa é que estava errada: ele não conseguia compreender o ministério daquele que era o Cristo.
A reação de Jesus foi surpreendente. Sua atitude imediata foi a de operar curas e sinais miraculosos (Lucas 7:21), e então ordenou aos seguidores de João que transmitissem ao profeta o que eles haviam presenciado. A isso, ele adicionou: “feliz é aquele que não se escandaliza por minha causa". Com esse conjunto de ações, Jesus quis dizer, em outras palavras: “Sou eu mesmo, e é isso o que vim fazer. Não vim cumprir agenda política; não vim satisfazer necessidades imediatas. Vim para trazer o reino de Deus, e feliz é aquele que compreende isso”. João Batista foi confrontado com essa verdade. Ele precisou corrigir suas ideias sobre quem o Cristo deveria ser.

Ainda nos dias atuais Jesus choca muitas pessoas. Seu discurso de arrependimento, humildade e amor serviçal não têm popularidade em um mundo saturado de autossuficiência e prepotência. Diante de tudo isso, resta que indaguemos a nós mesmos: Qual é a nossa expectativa com relação ao Filho de Deus? O que nós esperamos dele? Será que buscamos nEle algo que ele não se propôs a oferecer? Será que aceitamos aquilo que ele verdadeiramente veio nos ofertar? O propósito de sua vinda ainda é o mesmo, ele continua sendo o mesmo (Hebreus 13:8).