quinta-feira, 15 de março de 2018

Jornada Triunfal


Dos poucos (33, aproximadamente) anos de vida de Jesus na Terra, cerca de 3 foram dedicados ao seu ministério público. No entanto, a quarta parte daquilo que os evangelistas registraram em seus relatos é dedicada a uma única semana – denominada “Semana Santa”, a semana que compreende os eventos entre a entrada triunfal de Jesus em Jerusalém no domingo anterior à Páscoa e o domingo de sua ressurreição. Se os evangelistas dedicaram tanta atenção àquela semana, ela deve ser muito importante, e devemos nós também dar uma atenção especial a ela.
O evento hoje em dia relembrado como “Entrada Triunfal”, bastante conhecido no meio cristão, nos oferece fortes evidências do plano soberano de Deus para a salvação da humanidade. Minha intenção aqui é “esticar” a história para além deste evento pontual, e coloca-la sob perspectiva do plano abrangente de Deus.
O relato de João, no capítulo 12:12-19 diz o seguinte:

No dia seguinte, ouvindo uma grande multidão, que viera à festa, que Jesus vinha a Jerusalém,
Tomaram ramos de palmeiras, e saíram-lhe ao encontro, e clamavam: Hosana! Bendito o Rei de Israel que vem em nome do Senhor.
E achou Jesus um jumentinho, e assentou-se sobre ele, como está escrito:
Não temas, ó filha de Sião; eis que o teu Rei vem assentado sobre o filho de uma jumenta.
Os seus discípulos, porém, não entenderam isto no princípio; mas, quando Jesus foi glorificado, então se lembraram de que isto estava escrito dele, e que isto lhe fizeram.
A multidão, pois, que estava com ele quando Lázaro foi chamado da sepultura, testificava que ele o ressuscitara dentre os mortos.
Por isso a multidão lhe saiu ao encontro, porque tinham ouvido que ele fizera este sinal.
Disseram, pois, os fariseus entre si: Vedes que nada aproveitais? Eis que toda a gente vai após ele.

Para aqueles que cresceram em um ambiente cristão, ou que participam de alguma igreja há algum tempo, essa história não é novidade. A final de contas, é o registro daquilo que aconteceu a Jesus na semana anterior à Páscoa. Mas essa jornada na verdade iniciou muito antes da entrada de Cristo em Jerusalém.  Eu gostaria de compartilhar alguns detalhes que frequentemente nos fogem a essa perspectiva, mas que podem nos dar um entendimento mais aprofundado em várias outras histórias do ministério do Senhor. Para isso, vamos considerar três pontos relativos a esse evento de grande importância.

      1.       Jesus completou a missão que Deus preparou para ele
A história de Jesus entrando em Jerusalém inicia muito antes desse evento, uma vez que a última viagem de Jesus à cidade iniciou meses antes do seu ingresso na mesma. O próprio Jesus falou de uma ocasião específica em que ele deveria estar em Jerusalém. João menciona outras vezes em que o Senhor esteve em Jerusalém para festividades judaicas (é com base nesses dados que se estima a duração de 3 anos do seu ministério), mas esta ocasião traria um significado especial e teria um papel fundamental no plano eterno de Deus.
A primeira vez que Jesus falou da necessidade de ir à cidade foi logo após a confissão de Pedro: “Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo”. Mateus (16:21) chega a relatar que “Desde esse tempo, começou Jesus Cristo a mostrar a seus discípulos que lhe era necessário seguir para Jerusalém e sofrer muitas coisas dos anciãos e dos escribas, e ser morto e ressuscitado no terceiro dia”. Certamente não é coincidência o fato de que a identidade e a missão de Jesus foram reveladas ao mesmo tempo. É como se ele estivesse dizendo: “Beleza, agora que vocês sabem quem eu sou, eu vou contar o que eu realmente vim fazer”. Sua identidade como Cristo, o Filho do Deus vivo, é inseparável da sua missão e propósito.
A primeira revelação, relativa à necessidade de sofrer em Jerusalém, foi dura aos ouvidos dos discípulos, e eles resistiram. Pedro, que há pouco havia confessado Jesus como Cristo, repreendeu Jesus dizendo “isso nunca acontecerá a ti”, e o Senhor lhe corrigiu dizendo que a sua mente estava fixada “nas coisas dos homens, não nas de Deus”.
A segunda vez que Jesus falou sobre sua morte foi logo após a transfiguração. Nessa ocasião, seis dias após a confissão de Pedro, Jesus levou o próprio Pedro, Tiago e João, e subiu uma montanha com eles. Lá, sua glória foi manifestada a eles, na transfiguração de Cristo, em que sua face resplandeceu como o Sol e suas roupas se tornaram brancas. Ali, Moisés e Elias, a Lei e os Profetas, testificaram do Cristo e falaram com Jesus acerca das coisas que estavam para acontecer. E, mais uma vez, temos a correlação entre a identidade revelada de Jesus e sua missão. Embora nenhum dos evangelistas tenha mencionado Jerusalém explicitamente, o relato de Lucas inclui a afirmação de Moisés e Elias, que “falavam sobre a partida (no grego, Exodus), que estava para se cumprir em Jerusalém” (9:31). Nesse momento, após receber instrução, que Jesus iniciou sua jornada a Jerusalém, também reforçada por Lucas: “Aproximando-se o tempo em que seria levado aos céus, Jesus partiu resolutamente em direção a Jerusalém” (9:51).
A terceira vez que Jesus mencionou sua missão em Jerusalém é relatada de forma impressionante por Marcos (10:32-34):

E iam no caminho, subindo para Jerusalém; e Jesus ia adiante deles. E eles maravilhavam-se, e seguiam-no atemorizados. E, tornando a tomar consigo os doze, começou a dizer-lhes as coisas que lhe deviam sobrevir, dizendo: Eis que nós subimos a Jerusalém, e o Filho do homem será entregue aos príncipes dos sacerdotes, e aos escribas, e o condenarão à morte, e o entregarão aos gentios. E o escarnecerão, e açoitarão, e cuspirão nele, e o matarão; e, ao terceiro dia, ressuscitará.

Neste ponto Jesus já estava a caminho, em um ritmo lento, de Jerusalém. E à medida em que ele se aproximava de seu destino, as coisas ficavam mais sérias e intensas. Isso é perceptível pela crescente quantidade de detalhes que ele dava sobre sua morte, e pela resposta emocional de seus seguidores: eles estavam maravilhados e atemorizados. Jesus prosseguia a Jerusalém, em ritmo crescente, como alguém que tinha algo muito importante e difícil a fazer lá, e ele não queria perder o impulso e o propósito. Havia algo muito importante a ser realizado! Havia um plano a ser cumprido! Você já esteve tão determinado a fazer algo que sua forte resolução impressionou alguém?
Mas as dificuldades não eram esperadas só em Jerusalém – elas foram vivenciadas ao longo de toda a jornada. Primeiro, Jesus enfrentou rejeição em uma aldeia samaritana, porque “sua face era a de quem ia a Jerusalém” (Lucas 9:53) -  o episódio em que Tiago e João queriam que fogo caísse do céu e consumisse o vilarejo. De qualquer forma, essa rejeição pode ter causado um incremento no tempo total de viagem, uma vez que o trajeto mais curto passava pelo território de Samaria e Jesus precisou contorna-lo. Uma segunda vez, relatada em Lucas 13:31-35, ocorreu quando Herodes (o tetrarca da Galiléia e Peréia), alegadamente, queria tirar a vida de Jesus. Essa ameaça foi dita ao Senhor pelos Fariseus (sim, os próprios!), que aconselharam Jesus a deixar a região. Ele lhes respondeu que estava, sim, de partida – não para fugir da morte, mas para garantir que ela acontecesse no local apropriado: Jerusalém.
Deus também preparou uma jornada para cada um de nós. Ele nos chamou para uma maratona, sobre a qual o autor de Hebreus escreveu: deixemos todo o embaraço, e o pecado que tão de perto nos rodeia, e corramos com paciência a carreira que nos está proposta, olhando para Jesus, autor e consumador da fé, (...). Considerai, pois, aquele que suportou tais contradições dos pecadores contra si mesmo, para que não enfraqueçais, desfalecendo em vossos ânimos. (12:1-3). Às vezes o destino final parece distante – a realização de sonhos e tarefas que o Senhor nos confiou. Às vezes dificuldades podem causar certo atraso ou nos fazer duvidar que chegaremos lá. Mas há um propósito para a sua vida, estabelecido por Deus.

      2.       Jesus gastou tempo com pessoas
Como lemos anteriormente, Jesus estava se aproximando de Jerusalém em um ritmo intenso. Ele estava focado no objetivo último de seu ministério, sem tempo a perder. Mas, por mais impressionante que seja, e mesmo sob tais circunstâncias, Jesus nunca ignorou ou dispensou pessoas – elas eram (e são) a razão pela qual ele veio. Se considerarmos somente os últimos 20 km da viagem (de Jericó a Jerusalém), há muitas histórias de encontros marcantes entre Jesus e pessoas por ele cuidadas. Sem muitos detalhes, eu gostaria de apontar algumas delas:

     ·         O cego Bartimeu, que clamava “Jesus, Filho de Davi, tem misericórdia de mim!”. A multidão, ansiosa para ver Jesus entrando em Jerusalém não queria permitir nenhum empecilho à viagem (e talvez o próprio Jesus, por estar absorvido no propósito de chegar à cidade santa, não discerniu os primeiros clamores do homem). Mas Jesus lhe deu a atenção necessária e o curou.
      ·         Zaqueu, o coletor de impostos, considerado pecador e traidor pelos judeus, foi buscado por Jesus;
      ·         Lázaro, que foi ressuscitado de entre os mortos;
      ·         Maria, irmã de Lázaro, que honrou a Jesus e foi por ele honrada antes de sua morte.

Não é maravilhoso saber que Jesus nos aprecia e se interessa por nós como indivíduos? Que, mesmo sem se esquecer da visão geral do plano de Deus e de cumpri-lo, Jesus se apraz em ter um relacionamento pessoal conosco? Seu objetivo final não foi simplesmente cumprir uma tarefa, mas alcançar pessoas. Elas eram a razão de sua missão.
Devemos ter em mente que o Reino e o coração de Deus são centrados em pessoas, e não em uma lista de tarefas ou programas que devemos realizar perfeitamente. Da mesma forma como os encontros de Jesus ao final de sua trajetória, praticamente todos os demais encontros foram casuais, à medida que ele “seguia seu caminho”, sem agendar reuniões.
Como nós tratamos as pessoas quando estamos “muito ocupados” ou com nossas mentes “em outro mundo”? Damos maior importância à programas e projetos do que a pessoas? Nossa missão como cristãos são as pessoas, não o ministério. O ministério é a forma de alcançar gente.

      3.       Jesus é o Rei cujo Reino é e há de vir
Nesses últimos vinte quilômetros, percebemos que uma multidão seguia Jesus. E, à medida em que ele avançava, mais gente se unia. Havia tanta expectativa com relação ao Senhor, mais especificamente, eles buscavam um líder político que libertaria Israel do jugo romano, assim como Moisés livrou os israelitas da opressão egípcia: o livramento que seria celebrado em poucos dias, na Páscoa.
Lucas 19:11 nos diz que “Estando eles a ouvi-lo, Jesus passou a contar-lhes uma parábola, porque estava perto de Jerusalém e o povo pensava que o Reino de Deus ia se manifestar de imediato”. Tiago e João, inclusive, já estavam pedindo ao Cristo que lhes concedesse assentos ao seu lado no “Reino”, provavelmente imaginando que a jornada à Jerusalém culminaria em uma tomada da terra dos romanos para os israelitas.
Para Jesus, sua chegada à Jerusalém significava algo totalmente diferente do que para seus seguidores. Estes buscavam um reino na terra, um libertador político – o que levou a uma grande frustração. Jesus estava, de fato, introduzindo um Reino – não dos homens, mas de Deus; não físico, mas invisível. Aquelas pessoas não foram capazes de entender o que Paulo mais tarde descreveu como “o mistério de Deus, oculto por eras e gerações” (Col. 1:26). “Mas que agora”, continua Paulo, “foi revelado aos seus santos”. Nós recebemos os Espírito Santo, e com ele a possibilidade de conhecer e compreender a mente de Cristo. Não sejamos alarmados por nenhuma sorte de turbulência, nem abalados em nossa fé por circunstâncias exteriores. O Reino ainda é invisível, e está em nós que recebemos o “Cristo, o filho do Deus vivo”.
Qual era a importância da entrada triunfal, além do cumprimento de uma profecia? Para as pessoas, como supracitado, significava que os dias de opressão romana estavam contados. A expressão “Hosana!” significa “Oh, salva-nos!”. O uso de ramos de palmeiras, o símbolo nacional judaico, implica certa forma de nacionalismo. Ao cobrir a estrada com suas capas, o povo estava afirmando seu compromisso de se sujeitar a Cristo como seu Rei, assim como os israelitas haviam feito quando Jeú foi coroado rei de Israel (2 Reis 9:13). Ao mencionar Davi e seu reino, chamando Jesus de “filho de Davi” e “Rei de Israel” eles estavam reforçando seu apoio incondicional àquele que eles imaginavam que seria seu rei. O clamor é baseado em Salmos 118:25,26.
Para Jesus, essa entrada significava a inauguração do seu Reino dos Céus por meio de sua morte. Ele não tinha uma ideia equivocada quanto ao que haveria de acontecer. Seus olhos e seu coração estavam fixos em seu propósito. Ele amou as pessoas até o fim. Sua jornada era à cruz, para lidar com o pecado de uma vez por todas. Jesus é o Rei que morreu em favor de seus súditos.
Provavelmente o principal aspecto da “entrada triunfal” e seu relato nos evangelhos é registrar o cumprimento da profecia de Zacarias 9:9. Há uma lista de 353 profecias que foram cumpridas em Jesus. Aliás, uma expressão frequente nos evangelhos é a que diz “para que se cumprisse o que fora dito por intermédio dos profetas”, ou similares. Isso era com o objetivo de trazer confiança na identidade do Cristo e prover as pessoas (especialmente os judeus) com formas de reconhecê-lo. Mas há alguns aspectos interessantes sobre esses cumprimentos que precisamos entender:
·         Primeiramente, Jesus participou na busca por entendimento e cumprimento das profecias a seu respeito. Há uma intenção clara, uma proatividade que o levou a isso. Em muitos casos Jesus provocou o cumprimento de uma profecia (por exemplo, ao dizer, na cruz, “tenho sede”). Para tanto, ele precisava conhecer essas escrituras.
·         Em segundo lugar, é que sempre havia um fator sobrenatural no cumprimento das profecias, o que revela uma grande confiança no Pai. Aquilo que não podia ser controlado ou realizado por Jesus era feito pelo Pai. No caso da profecia do jumentinho, além do conhecimento sobrenatural, podemos apontar para a acurácia e convicção daquilo que Jesus disse sobre o jumento e sobre os eventos que os discípulos deveriam esperar ao busca-lo para o Senhor.
·  Em terceiro lugar, temos a participação dos discípulos. Apesar do fato de eles não compreenderem inteiramente tudo o que estava acontecendo, e nem mesmo associarem esse evento com as Escrituras até mais adiante, a sua obediência facilitou o cumprimento. Os discípulos, como sempre, tiveram participação importante ao preceder Jesus. Assim como ele havia enviado os discípulos às aldeias que ele mais tarde haveria de visitar, ele enviou dois discípulos para buscar o jumento. Esse fato, omitido por João, é mencionado por todos os demais evangelistas. Jesus lhes deu instruções bem claras: uma tarefa, um direcionamento, o conhecimento necessário e as ferramentas para concluir a obra.

Deus é fiel em todas as suas promessas. Assim como muitas profecias foram cumpridas em Cristo, há tantas outras que serão cumpridas em seu devido tempo. Nesse intervalo, devemos buscar entendimento com relação ao nosso papel no plano soberano de Deus e seu Reino.
Nós, cristãos, estamos bem familiarizados com muitas profecias e trechos da Bíblia que falam sobre Jesus diretamente. Mas Deus tem promessas e instruções para nós também! O Salmo 139 fala sobre os pensamentos maravilhosos de Deus a nosso respeito. Efésios 2:10 diz que “fomos criados em Cristo Jesus para as boas obras, as quais Deus preparou de antemão para que andássemos nelas”. Não considere as Palavra de Deus como algo impessoal, sem significado particular, que não se aplica a você como indivíduo. Vamos trabalhar para a realização do evangelho em nossas vidas! Vamos confiar no Senhor para concretizar em e através de nós aquilo que a nós é impossível, sem eliminarmos ou abafarmos o sobrenatural de Deus como uma realidade a ser esperada. Vamos nos envolver na vontade de Deus e compartilhar de seu propósito!

Paulo testificou, a falar das dificuldades e aflições que enfrentava no ministério:

“Graças, porém, a Deus, que, em Cristo, sempre nos conduz em triunfo e, por meio de nós, manifesta em todo lugar a fragrância do seu conhecimento” (2 Coríntios 2:14)
Jesus verdadeiramente triunfou – talvez não como os israelitas esperavam, mas de forma mais profunda e completa. Ele adentrou Jerusalém como um vencedor – sobre o pecado e a morte. E ele nos conduz nesse desfile triunfal consigo, sendo o nosso modelo perfeito.

quinta-feira, 20 de abril de 2017

#vemMeteoro!

Em meio ao caos político, econômico e social tanto no cenário nacional quanto no internacional, surgiu a expressão “vem meteoro” nas redes sociais da internet como um desabafo frente aos absurdos que nos cercam. Frequentemente, notícias e constatações são marcadas com essa hashtag (uma palavra ou expressão chave antecedida pelo símbolo “#”). Alguns dos recentes acontecimentos que foram coroados com o #vemMeteoro, a título de exemplo, são: a guerra da Síria, fãs eufóricos de participantes do BBB e do goleiro Bruno, mãe que foi processada pelo filho por tomar seu celular – enfim, decepções em várias escalas unidas pelo sentimento de descrédito em alguma possibilidade de melhora na humanidade. A ideia de meteoro, nesse contexto, corresponde à de aniquilação da maldade e de recomeço “nos trilhos certos”.
Alguns dias atrás me veio à memória uma história bíblica que me fez pensar sobre o meteoro das redes sociais. O capítulo 2 do livro de Daniel relata um sonho do rei do primeiro império de proporções mundiais, Nabucodonosor, e que foi interpretado pelo profeta Daniel. O sonho consistia em uma grande estátua feita de diferentes materiais: cabeça de ouro, peito e braços de prata, ventre e quadris de bronze, pernas de ferro e pés de ferro e barro misturados. E nesse sonho, “uma pedra soltou-se, sem auxílio de mãos, atingiu a estátua nos pés de ferro e de barro e os esmigalhou. (...) Mas a pedra que atingiu a estátua tornou-se uma montanha e encheu a terra toda” (Daniel 2:34,35). A estátua, conforme a interpretação do sonho, representa os vários impérios: Babilônia, Pérsia, Grécia e Roma. Todos eles, reinos visíveis e de grandes conquistas. Contudo, foram dissipados e, segundo Daniel, foram substituídos pela pedra que os esmagou, uma alusão ao Reino de Deus inaugurado por Jesus Cristo, a “pedra viva – rejeitada pelos homens, mas escolhida por Deus e preciosa para ele” (1 Pe. 2:4). Essa Pedra cresceu e encheu toda a terra. Esse meteoro, querido leitor, não vem com o propósito de exterminar a humanidade, mas de revelar duas coisas de acordo com Paulo em Romanos 1:17,18. A primeira delas, a Justiça de Deus, revelada no evangelho com o propósito de reconciliar o ser humano com o seu Criador pela fé no sacrifício expiatório de Jesus para o perdão dos nossos pecados. A segunda, é manifestar a ira de Deus “contra toda impiedade e injustiça dos homens que suprimem a verdade pela injustiça”.
Todo mal e injustiça já foram julgados na Cruz, e aguardam a execução de sua sentença. Nunca vi ninguém “invocar” o meteoro sobre si mesmo – o mal parece sempre estar do lado de fora e a verdade, conosco. Mas, a menos que reconheçamos o mal em nós, jamais poderemos ser cobertos pela justiça do reino de Deus proveniente de seu perdão e estaremos debaixo da realidade de sua ira, que trará juízo sobre todo o mal, inclusive o nosso próprio.

segunda-feira, 17 de outubro de 2016

“Vocês não querem vir a mim para terem vida”

     O psicanalista Sigmund Freud descreveu a dinâmica mental do ser humano em termos de “tensão” e “alívio” - necessidades (de naturezas diversas) que surgem e que trazem consigo o ímpeto para sua satisfação. A sede, por exemplo, gera em nós o instinto de buscar por alguma bebida. Quanto maior a sede, maior o esforço que estamos dispostos a fazer para satisfazê-la. Tenho razões para acreditar que a saúde mental de alguém inclui a forma com que lida com essas tensões (ou ansiedades) e também a forma com que busca aliviar-se. Evidentemente, quem consegue compreender sua própria necessidade terá grande chances de supri-la de forma saudável e bem-sucedida. Para o faminto “qualquer porcaria serve”, mas a satisfação plena somente virá com uma refeição saudável e equilibrada.
     Agora, o que isso significa para nós, na nossa busca diária? Os judeus da época de Cristo buscavam vida eterna. Jesus lhes disse: “Vocês estudam cuidadosamente as Escrituras, porque pensam que nelas vocês têm a vida eterna. E são as Escrituras que testemunham a meu respeito; contudo, vocês não querem vir a mim para terem vida” (João 5:39,40). Eles sabiam o que queriam, e estavam procurando no lugar certo, porém seu ceticismo não permitiu a eles perceberem que aquele que poderia satisfazê-los estava bem à sua frente. Muitos buscam paz, amor, alegria, vida plena, aceitação, estão dispostos a subir aos céus e a descer até o inferno, a sacrificar-se, a destruir-se, a entregar-se a loucuras e perigos. Mas não conseguem (ou não querem) crer que Jesus pode oferecer tudo isso e muito mais, em um pacote só, em si mesmo. Ele é o caminho para Deus, é a Vida Eterna que estava com Deus e nos foi manifestada. Mas nós não queremos ir a ele para receber vida. Ao invés, nos subjugamos a uma vida pela metade. A vida plena começa no momento em que compreendemos que Deus nos ama, e que por nos amar ele enviou seu único filho para que por ele vivamos.

     Tudo o que escrevo vem de experiência própria! Não preciso mais (sobre)viver de lixo, de restos e porcarias – em Cristo sou alimentado com um verdadeiro banquete! “Como é precioso o teu amor, ó Deus! Os homens encontram refúgio à sombra das tuas asas. Eles se banqueteiam na fartura da tua casa; tu lhes dás de beber do teu rio de delícias. Pois em ti está a fonte da vida; graças à tua luz, vemos a luz” (Salmos 36:7-9). Jesus é o mesmo ontem, hoje e eternamente, e o convite que ele fez aos judeus de dois mil anos atrás ecoa para nós hoje: “Se alguém tem sede, venha a mim e beba” (João 7:37).

segunda-feira, 12 de setembro de 2016

Don't worry, be happy!

Parece-me impossível não se deixar contagiar por uma canção de ritmo suave, que inicia com uma melodia cativante e despreocupadamente assobiada, e que em seu título e refrão diz: “Don’t worry, be happy” (Não se preocupe, seja feliz, em inglês). Eu inevitavelmente associo essa música a um ambiente de praia paradisíaca, com palmeiras, água de coco, brisa suave, uma sombra gostosa e nenhum problema para atrapalhar o clima.
Bob Marley, intérprete dessa música, se tornou ícone de uma geração por cantar e pregar uma vida despreocupada, paz, alegria e harmonia. E quem, em sã consciência não deseja essas coisas? Mesmo quem tem o privilégio de relaxar por alguns dias em uma praia paradisíaca, dificilmente consegue alienar-se dos problemas e preocupações cotidianos. No entanto, ainda que tenhamos belos discursos e canções sobre uma vida tranquila, de paz e tranquilidade, a paz não passa a existir por si mesma. Ela precisa de uma causa, uma fonte, do contrário essa expectativa invariavelmente torna-se em frustração. E “paz”, por definição, significa “sossego, quietação de ânimo, tranquilidade, ausência de conflitos e divisões, reconciliação”.
Bob Marley foi muito gentil ao falar desses assuntos, mas ele não pôde oferecer (como nenhum ser humano, de fato, poderia) uma causa para paz e alegria na vida de ninguém, somente expectativas. Contudo, um outro famoso professor e pregador, há muitos anos atrás declarou: “Deixo-lhes a paz; a minha paz lhes dou. Não a dou como o mundo a dá. Não se perturbem os seus corações, nem tenham medo” (Jo. 14:27). Alguém que fala com tanta propriedade necessita, obrigatoriamente, oferecer uma causa objetiva para isso. E graças a Deus, ele o fez! Jesus Cristo não foi apenas um mestre de ensinos bonitos, porém inalcançáveis. Ele mesmo se tornou a causa possível de paz a todos nós, em cada um dos pontos acima definidos! “Ele é a nossa paz”, declarou o apóstolo Paulo à igreja em Éfeso (Ef. 2:14), ao referir-se à obra reconciliadora de Cristo tanto com relação a Deus – que ao garantir o perdão dos pecados através de sua cruz, destruiu o muro que nos separava do Criador, e com relação aos homens, propondo reunir em si mesmo todo homem que, pela fé, aceita essa reconciliação.

Ao final de sua vida, Bob Marley redeu-se à paz que somente Cristo pode oferecer, sendo batizado na Igreja Ortodoxa Etíope pouco antes da sua morte. Na carta aos hebreus lemos que Jesus, ao ser consumado (morto), “veio a ser a causa da eterna salvação para todos os que lhe obedecem” (Hb. 5:9), e que “pode também salvar perfeitamente os que por ele se chegam a Deus, vivendo sempre para interceder por eles” (Hb. 7:25). Ele se tornou a causa de salvação e paz que precisamos. Achegue-se a Ele!

sábado, 27 de agosto de 2016

Abel, Caim, e a religião que Deus aceita

       Rotineiramente ouvimos: “Todas as religiões levam a Deus”. A bíblia conta a história de dois irmãos, filhos de Adão e Eva nascidos após a entrada do pecado no mundo, que quiseram se aproximar de Deus. Gênesis 3 dá a entender que Adão e Eva relacionavam-se com Deus diariamente e que este relacionamento rompeu-se com o pecado – isto é, a desobediência para com o mandamento de Deus, resultando em morte física e espiritual. Certamente seus descendentes, entre eles Caim e Abel, cresceram ouvindo histórias sobre esse contato com Deus no paraíso perdido e sobre a promessa feita por Deus (o chamado proto-evangelho, em Gn. 3:15) de que um dia um descendente de Eva derrotaria o Diabo e restauraria a comunhão com Deus. Sem sombras de dúvida, esses relatos e a promessa de restauração geraram um anseio e uma expectativa muito grande nas primeiras gerações humanas por buscar a Deus, por retomar esse vínculo com o Criador.
       O capítulo 4 de Gênesis relata que Caim e Abel, no intuito de aproximar-se de Deus, apresentaram ofertas. Não sabemos exatamente quando ou como esses ritos iniciaram; sabemos que o primeiro sacrifício foi feito pelo próprio Deus para cobrir a vergonha de Adão e Eva com a pele de animais, apontando para o sacrifício de Cristo. Abel e sua oferta foram aceitos diante do Senhor, porém Caim e sua oferta, não. Por qual motivo teria isso acontecido? O texto não deixa explícito, no entanto temos, algumas pistas que nos permitem uma conclusão. Sobre Caim, o apóstolo João diz que “pertencia ao maligno” e “suas obras eram más” (I Jo 3:12). Judas, irmão de Jesus, relaciona os falsos mestres religiosos ao “caminho de Caim” (Jd 11), e Jesus também faz essa associação (Mt 23:35). Sobre Abel, sabemos que: era justo (Mt 23:35), fazia boas obras (I Jo 3:12), e que “pela fé, Abel ofereceu a Deus sacrifício superior ao de Caim, sendo reconhecido como justo quando Deus aceitou suas ofertas” (Hb 11:4). Caim nos fala da religião, do homem separado de Deus e que tenta aproximar-se dele com seus próprios esforços, mas que fracassa por não ser capaz de atender aos requisitos divinos. Abel nos fala da reconciliação com Deus através de Cristo, o sacrifício expiatório que nos aproxima do Altíssimo mediante a fé em sua obra redentora.
      Não há nenhuma religião que nos aproxime de Deus. Tentar aproximar-se dele através de ritos, por mais elegantes ou piedosos que sejam, é inútil. Mas através de Cristo, o sacrifício perfeito, temos aprovação de Deus e acesso à vida com ele. “Disse-lhes Jesus: Eu sou o caminho, e a verdade e a vida; ninguém vem ao Pai, senão por mim” (João 14:6).

sábado, 2 de abril de 2016

“Todos atrairei a mim”


Uma semana antes de ser entregue para ser crucuficado, Jesus havia saído de Betânia em direção a Jerusalém, onde haveria a celebração da páscoa judaica. O capítulo 12 do evangelho de João relata que após calorosa recepção pelas multidões, que aclamavam seu nome ao entrar na cidade, Jesus foi procurado por alguns gregos (mais precisamente gentios, ou não-judeus, e não necessariamente pessoas oriundas da grécia) que haviam ido à festa adorar a Deus. Esse contato entre os gregos e Cristo foi mediado por seus discípulos Filipe e André, e o que se seguiu após isso sempre pareceu um tanto “misterioso” pra mim, pelo fato de não haver menção se esses gregos conseguiram falar com Jesus e também pelo teor do discurso por ele proferido.

Logo após ficar sabendo que gentios o procuravam, Jesus imediatamente passou a falar de aspectos relativos à sua morte e sua obra redentora. Falou de ser glorificado, da semente que precisa morrer para gerar frutos e de que apesar de estar com a alma perturbada com o que haveria de acontecer em seguida, era justamente isso que cumpriria o propósito de sua missão. Então, dois eventos simultâneos à crucificação são revelados por Jesus. O primeiro deles diz respeito ao julgamento desse mundo e a derrota de Satanás. A bíblia diz que “O mundo está sob o poder do maligno” (I João 5:19), mas que Jesus Cristo “participou dessa condição humana, para que, por sua morte, derrotasse aquele que tem o poder da morte, isto é, o Diabo, e libertasse aqueles que durante toda a vida estiveram escravizados pelo medo da morte” (Hebreus 2:14,15). A segunda delas diz respeito à humanidade como um todo: “Eu, quando for levantado da terra, atrairei todos a mim” (João 12:32). Em sua morte Jesus conquistou a redenção para todas as nações. E não somente isso, mas ele deseja atrair-nos a si mediante a sua cruz. Essa cruz que é a loucura de Deus, e que é amor do começo ao fim. Essa cruz que carrega um corpo moído por nossos pecados e ferido por nossas transgressões e que transparece o coração bondoso daquele que se ofereceu como substituto por nós, para que em sua morte achássemos vida na presença do Pai Celestial.


Talvez sejamos como aqueles gregos, ouvimos desse Jesus e desejamos conhecê-lo, encontrá-lo. Pois bem, esse encontro só é possível aos pés da cruz, onde precisamos encarar quem de fato somos e nossa necessidade de redenção, e onde percebemos quem Jesus Cristo é: o provedor da redenção. É através da cruz que ele nos atrai para si.

terça-feira, 10 de novembro de 2015

“Tornei-me inimigo de vocês por lhes dizer a verdade?”

Verdade – um conceito maltrapilho em nosso mundo pós-moderno. E em um contexto no qual “cada um tem sua própria verdade”, proclamar uma verdade em termos absolutos é ser odiado e rejeitado de tantas formas quantas “verdades” são reivindicadas. Por que, ao final das contas, se há uma verdade absoluta, a minha verdade individual não vale nada. E mais do que isso, ela requer que eu me sujeite a ela (outro conceito fora de moda). Fomos convencidos a acreditar que a “verdade absoluta” e a sujeição à mesma são definições opressivas e injustas, mas não o são. É melhor depender de uma bússola do que em meros instintos quando estamos perdidos e sem direção. Por sua vez, assumir uma verdade relativa a mim, fundamentada em meus próprios desejos, vontades e inclinações é caminhar sobre gelo fino. Em que momento pareceu mais lógico e seguro que confiemos cada um em suas próprias definições a aceitar uma verdade única independente de nós mesmos (limitados e falhos) e acima de nós?
Aceitar uma afirmação como verdade está, de certa forma, relacionada ao grau de confiança que temos na pessoa que faz essa afirmação. Pouco antes de morrer, Jesus foi interrogado por Pilatos (governador romano sobre a província da Judéia). Nesse diálogo, Jesus falou: “De fato, por esta razão nasci e para isto vim ao mundo: para testemunhar da verdade. Todos os que são da verdade me ouvem" (João 18:37,38). O relato do evangelho continua: "'Que é a verdade?', perguntou Pilatos. Ele disse isso e saiu.” Pilatos tinha a mesma inquietação que a maioria de nós tem: o que é a verdade? Pilatos, apesar de seu questionamento, não permaneceu para ouvir a resposta, ele saiu. Provavelmente por que ele sabia que estava prestes a condenar um homem justo. E nós? Será que estamos dispostos a ouvir a voz daquele que que se autointitula a própria verdade? Ou será que estamos receosos de sermos achados em falta de algo?

Mas veja a maravilha do evangelho: aquele que veio trazer a luz e a verdade ao mundo deu sua própria vida e seu sangue como selo de autenticidade a esse testemunho e também para que pudéssemos ser justificados (isto é, libertos de condenação) e transformados! A verdade de Cristo não veio para nos condenar. Pelo contrário, ela nos mostra, sim, o nosso pecado, mas é para que sejamos libertos do mesmo. A verdade muitas vezes pode parecer dolorosa, mas “Quem fere por amor mostra lealdade, mas o inimigo multiplica beijos” (Pv 27:6). "Digo-lhes a verdade: Todo aquele que vive pecando é escravo do pecado. Portanto, se o Filho os libertar, vocês de fato serão livres.” João 8:34,36