quinta-feira, 10 de março de 2011

Uma questão de necessidade!

Pessoal, resolvi voltar a escrever. Agora que possuo mais tempo livre, quero dedicá-lo, em parte, à essa função que me edifica tanto. Vou tratar de temas filosóficos, sociais, educacionais e, obviamente, meteorológicos (minha formação).

Hoje resolvi postar um texto que escrevi há vários anos, no ensino médio. É um artigo de filosofia que apresentei em uma espécie de "mini-congresso" que tivemos no então denominado CEFET-RS. Espero que leiam e comentem.


Uma questão de ... Necessidade!!


Introdução:

Pretendo, a partir deste trabalho, apresentar e explorar algumas das questões que vejo ser de imensurável importância na vida de qualquer ser humano, questões estas que tangem a existência e significado da vida humana, e analisa-las à luz das nossas necessidades enquanto seres humanos. Para justificar essa minha escolha, cito Maslow:

“É inteiramente verdadeiro que o homem vive apenas de pão – quando não há pão. Mas o que acontece com os desejos do homem quando há muito pão e sua barriga está cronicamente cheia? Imediatamente emergem outras (e superiores) necessidades e são essas, em vez de apetites fisiológicos, que dominam o seu organismo. E quando elas, por sua vez, são satisfeitas, novamente novas (e ainda superiores) necessidades emergem e assim por diante”(Maslow, Motivation and Personality, New York: Harper and Row, pg 38, citado por Fadiman e Frager, Teorias da Personalidade, 1979, Harbra).

Desenvolvimento:

Breve exposição do trabalho de Abraham Maslow

Maslow expôs, em sua pesquisa, uma hierarquia das necessidades humanas, que devem ser supridas a fim de que o indivíduo possa desfrutar de uma vida plena. Ele as classificou assim:

- necessidades fisiológicas, tais quais fome, sono, etc;
- necessidade de segurança, como estabilidade;
- necessidade de amor e pertinência, como a família e as amizades;
- necessidade de estima, de aprovação e auto-respeito;
- necessidades de auto-atualização, terminologia que remonta a filosofia aristotélica de potência e ato. É a utilização das potências humanas, que promoverão o desenvolvimento.

Para Maslow esses seriam os “ingredientes” para uma vida completa em seu significado e repleta de satisfação. Ele ainda sugeriu o termo “metamotivação”, que é referente ao comportamento inspirado por valores e necessidades de crescimento, e toma a forma de ideais ou metas que produzem um sentimento de realização pessoal. Ele também propõe a existência de “queixas” e “metaqueixas”, que se referem à reclamações geradas por necessidades frustradas. As queixas se devem à níveis mais básicos na escala de necessidades; já as metaqueixas demonstram um nível mais profundo de necessidades, como a necessidade de perfeição, justiça e verdade, visto que as necessidades “inferiores” já foram satisfeitas.
Motivações que nos movem à busca de metas positivas e que vão além de uma simples gratificação de necessidades são denominadas por Maslow de “motivação do ser”, superior à “motivação de deficiência”, visto que esta existe como um meio de satisfazer necessidades frustradas ou privadas. A “cognição de deficiência” os objetos são tidos como meros preenchedores de necessidades, levando o indivíduo a olhar à sua volta com a perspectiva da necessidade. Por outro lado, a “cognição do ser” valoriza aquilo que é, sem buscar harmonizar as coisas com as suas necessidades, fazendo com que a percepção seja mais rica e completa. Ele também analisou o amor na vida das pessoas e chamou de “amor de deficiência” aquele amor que só existe devido à uma necessidade interna de ser aceito ou de ser amado em troca, e nomeou de “amor do ser” o amor que é desinteressado, que busca o bem do outro, o amor altruísta. Maslow vê o ser humano como auto-suficiente e como bom por essência.

Diante do trabalho de Abraham Maslow podemos perceber que o ser humano é repleto de carências, de necessidades que vão desde as mais simples até as mais complexas. Podemos ver que existem dois tipos de manifestações nos nossos pensamentos, sentimentos e atitudes: um deles são as manifestações decorrentes da nossa própria necessidade e o outro é oriundo de fatores extra-necessidade, ou mais “sublimes”.

Olhando mais a fundo

Gostaria de refletir um pouco, seguindo essa linha de pensamento orientada pela necessidade, sobre a urgência do homem em saber o motivo da sua existência. Martin Heidegger afirmou não ser relevante a origem do ser, o importante é que ele existe e está aí; mas devo fazer uma objeção a esse pensamento. A origem do ser é, sim, uma incógnita muito relevante, a menos que se queira simplesmente “estar aí”, porque a origem do ser é o que define o propósito da sua existência. Vamos definir alguns conceitos:

Meta: Lugar definitivo ou intermediário aonde eu quero chegar. Responde a pergunta aonde?

Objetivo: Está relacionado com o que se pretende caso a meta seja alcançada. Responde à pergunta para quê?

Propósito: É a programação interior que me coloca em movimento em certa direção. É a razão por que algo existe. Responde à pergunta por quê?

Qual seria a necessidade mais profunda de um ser humano? Ouso afirmar que o trabalho de Maslow, embora muito profundo e pertinente, ficou incompleto, pois aquilo que gera a real sensação de realização e o sentimento de uma vida com significado em uma pessoa é o conhecimento do porquê da sua existência. Pois, afinal, só nos sentimos realizados ao cumprir uma tarefa se soubermos o motivo pelo qual a realizamos e se formos bem-sucedidos em seu cumprimento.

Analisando a nossa sociedade, observamos que os nossos relacionamentos estão cada vez mais objetivados, são cada vez mais motivados pela “deficiência”, pelas nossas carências do que pelo amor verdadeiro. Ao olharmos para as coisas, para as pessoas e para as circunstâncias só conseguimos enxergar objetos que podem saciar os nossos anseios, mesmo que não saibamos bem na verdade quais são eles.

Retomando os conceitos acima citados, somos capazes de notar que nós, os seres humanos em geral, temos estipulado objetivos para as nossas vidas, como ter um bom emprego, com um ótimo salário para viver confortavelmente, e traçado metas para alcançar esses objetivos, como estudar muito, economizar, etc. Mas está faltando algo nisso tudo. Falta um propósito. Falta saber o porquê da existência.

Eu disse a mim mesmo: Venha. Experimente a alegria. Descubra as coisas boas da vida! Mas isso também se revelou inútil. Concluí que o rir é loucura, e a alegria de nada vale. Decidi entregar-me ao vinho e à extravagância, mantendo, porém, a mente orientada pela sabedoria. Eu queria saber o que vale a pena, debaixo do céu, nos poucos dias da vida humana.
“Lancei-me em grandes projetos: construí casas e plantei vinhas para mim. Comprei escravos e escravas (...). além disso, tive também mais bois e ovelhas do que todos os que viveram antes de mim em Jerusalém. Ajuntei para mim prata e ouro, tesouros de reis e de províncias. Servi-me de cantores e cantoras, e também de um harém, as delícias dos homens. Não me neguei nada que os meus olhos desejaram; não me recusei a dar prazer algum ao meu coração. Contudo, quando avaliei tudo o que as minhas mãos haviam feito e o trabalho que eu tanto me esforçara para realizar, percebi que tudo foi inútil, foi correr atrás do vento...” (Salomão, Eclesiastes 2 – trecho selecionado, Bíblia, NVI, Vida)

Posso até mesmo parecer um pouco inconveniente, mas a questão fica ainda mais difícil, ou ainda, impossível de ser resolvida se tentarmos excluir Deus da “jogada”. “A menos que se admita a existência de Deus, a questão que se refere ao propósito para a vida não tem sentido” (Bertrand Russell, filósofo ateu. Não possuo o endereço dessa citação).

“...Há muitos anos que eu não venho sentindo excitação ao ouvir ou fazer música, bem como ler ou escrever... Eu sou sensível demais. Preciso ficar um pouco dormente para ter de volta o entusiasmo que eu tinha quando criança... Eu tive muito, muito mesmo, e sou grato por isso, mas desde os sete anos de idade passei a ter ódio de todos os humanos em geral... Eu sou mesmo um bebê errático e triste! Não tenho mais a paixão, então lembrem: é melhor queimar do que apagar aos poucos...” (Kurt Cobain, em sua carta-suicida)

Nesse exemplo real de Kurt Cobain percebemos claramente uma necessidade gritante por significado na vida. Sem a obtenção de respostas, buscava alívio recorrendo às drogas.

“quando cai a noite, sobra tempo para buscar o sentido da vida, será que alguma vez eu não me senti solitaria? pois muitas vezes, mesmo acompanhada, estava só,nem mesmo sei o que busco, hoje minha unica compania são meus livros, estou kda vez pior, não faço idéia de como isso acabara. “ (orkut, comunidade solidão)

“(Deus)Também pôs no coração do homem o anseio pela eternidade; mesmo assim ele não consegue compreender inteiramente o que Deus fez” (Bíblia, Eclesiastes 3:11, NVI, Vida).

Conclusão

Somente Deus (não me refiro a um deus genérico, muito menos laico, mas a O Deus verdadeiro e onipotente) é capaz de dar sentido pleno e significado completo à nossa vida. De fato, Deus é o divisor de águas, é o ponto chave: aceitar ou rejeitar a sua existência muda completamente os fatos. Mudou para mim.


Bibliografia:
- Teorias da Personalidade, Fadiman, J e Frager, R, 1979, Harbra
- Bíblia Sagrada, 2000, Nova Versão Internacional, Vida
- Carta suicida de Kurt Cobain


3 comentários:

  1. Que bom que voltaste a escrever no teu blog...

    Apreciei....e fiquei a pensar.........

    Abraço forte.

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  2. "Hm... bom, bom...muito bom Simba!"
    Ótimo recomeço! Este está um tanto mais acessível para meros e leigos leitores como eu! hehe
    Gostei muito dos textos expostos, muito bem escolhidos!
    Vieram a calhar com as questões que o livro mal-humorado de Eclesiastes tem surtido em mim!
    Gostei muito do lance "motivação do ser" e "motivação de deficiência", que traduziu em palavras algo que, apesar de claro na minha mente, eu ainda não sabia expressar.. Deu nome aos bois, entende?! hehe
    "Enriqueceste meu dia, guri!"
    E como disse a tia Valquíria, "apreciei....e fiquei a pensar......"

    Um grande beijo, meu amor!

    ps: sei que a maioria pensa assim, mas será que foi Salomão mesmo qm disse aquilo?!! =P

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  3. Cara, conheci agora teu blog! Eu não fazia idéia que escrevias tão bem. Muitos se matam colando e plagiando pra tentar escrever uma tese enquanto de ti as reflexões e palavras fluem. É um dom!
    Eu assisti ontem um show do Linking Park (em Moscou) e fiquei refletindo sobre várias letras. Uma delas especialmente me linkou com este texto:
    " I've tried so hard
    And got so far
    But in the end,
    It doesn't even matter.
    I had to fall
    To lose it all
    But in the end,
    It doesn't even matter."
    Parece até que o próprio Salomão poderia ter escrito isso...
    abraço,
    niño

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