Saber definir emoções e sentimentos não é lá uma coisa fácil ou simples. Dissertar sobre elas ou concluir coisas acerca delas é ainda mais desafiador. Circunstâncias, lembranças e muitos outros fatores podem nos levar de uma emoção a outra, e, além disso, há aqueles momentos em que nos sentimos “estranhos”, desconfortáveis, etc. Realmente me instigam aquelas pessoas que aparentemente não se comovem com nada, não sofrem, não têm dias ruins, não se sentem “estranhos” às vezes. Me questiono se é assim mesmo ou se outras coisas se passam por trás de tudo.
Por várias vezes me pego analisando as coisas: observando pessoas, atitudes, modas, comportamentos e tendências. Observo também como o mundo gira, como as coisas acontecem ao nosso redor. Então me sinto vivendo uma realidade distorcida. Penso nas motivações dos nossos relacionamentos. Penso na “luta de classes”, na desigualdade social. Observo as pessoas ao meu redor (e me vejo nelas) e percebo como estão resignadas, acomodadas aos seus” destinos” tão carentes de vida. Parece que estamos destituídos de quem na verdade somos.
Lúcio Sêneca, filósofo latino, definiu essas condições que citei acima de uma forma que considero bastante completa:
Todos eles estão na mesma situação, tanto os que estão envergonhados por sua própria leviandade – pelo tédio e pela contínua mudança de propósitos, aos quais agrada sempre mais o que foi abandonado – quanto àqueles que relaxam e passam a vida bocejando. (...) São inúmeras as propriedades do vício, mas seu efeito é um só: o de aborrecer-se consigo mesmo. Isto nasce do desequilíbrio da alma e dos desejos tímidos ou pouco prósperos, visto que não ousam tanto quanto desejam ou não o conseguem. Dessa forma realizam-se apenas na esperança. Sempre são instáveis e volúveis. Por todas as vias tentam realizar seus desejos. Eles se instruem e se conduzem para coisas desonestas e difíceis e, quando o seu trabalho é frustrado, atormentam-se não por terem desejado o mal, mas por tê-lo desejado em vão.
Então eles se arrependem de terem recomeçado e temem recomeçar. Daí advém uma agitação que não encontra saída, porque não podem nem dominar nem se submeter aos seus desejos. Em conseqüência, reflete-se a indecisão de uma vida que pouco se expande e o torpor de uma alma em meio aos seus desejos fracassados.
(...) não suportando nada por muito tempo e fazendo das mudanças lenitivo para suas dores.
(trecho do livro “Da tranqüilidade da alma”,p.42ss, publicado pela coleção L&M POCKET)
Isso que mais me comove e incomoda quando reflito sobre a humanidade é o que Sêneca chamou de “vício” ou “tédio”. Quem de nós não se identifica, ao menos parcialmente, com os diagnósticos do filósofo? Quem de nós nunca teve seus desejos fracassados ou fez das mudanças lenitivo para suas dores?
Mas a questão principal é: até que ponto nos conformamos com isso? Até quando viveremos isso?
The Vice
Knowing how to define emotions and feelings is not an simple or easy thing to do. To expatiate about them or to conclude things about them is even more challenging. Circumstances, memories and many other factors can lead us from one feeling to another, and, furthermore, there are those moments in which we feel “strange”, uncomfortable, just to point some emotions. It really incites me those people who apparently are not moved by anything, who do not suffer, do not have bad days, do not feel “strange” sometimes. I ask myself if it´s really like that or if there’s something else behind that appearance.
Several times I catch myself analyzing things: observing people, attitudes, fashions, behaviours and tendencies. I gaze also the way world spins, the way things happen around us. Then I feel like I’m living a distorted reality. I think about the “class struggle”, about the social inequality. I observe people around me ( and I see myself in them) and I realize how resigned they are, comfortable on their lifeless “destinies”. It seems we are deprived of who we are.
Seneca, an Latin philosopher, defined these conditions I pointed above in a way I find very proper:
All are in the same condition, not only those who are troubled with fickleness and disgust and a constant change of purpose, who are always better pleased with what they have given up, but also those who are languid and sleepy. (…)Moreover, there are countless peculiarities of the disease, but only one effect,--to be dissatisfied with themselves. This arises from a lack of proper control over the mind, from faint-hearted and unrealized desires; on this account they either date not do as much as they desire or fail of success and live entirely upon hope, and are always fickle and vacillating, which necessarily befalls those who are in suspense in regard to the accomplishment of their wishes; they spend their whole life in this way and teach and compel themselves to use dishonorable and difficult means; and when their effort is without reward, useless disgrace vexes them, and they regret not that they have done wrong, but that they have wished for it in vain. Then repentance for what they have begun, and fear of beginning something new restrains them, and there gradually steals over them that vacillation of mind which finds no end, because they can neither command nor obey their passions, the dallying of a life which is not developing itself, and the dullness of a mind which is becoming torpid amid its disappointed hopes.
(…)enduring nothing long and using changes as remedies.
(taken from http://www.molloy.edu/sophia/seneca/tranquility.htm on 27th march, 2011 - Book “ On tranquility of mind” – De tranquillitate animi)
That thing, which most move and bother me when I think about humanity is what Seneca called “vice” or “fickleness”. Who of us do not identify, at least partially, with the philosopher’s diagnosis? Who of us has never had their wishes frustrated or used changes as remedies?
But the main question is: for how long will we be resigned to this? How far will we live this?
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