Uma dos relatos neotestamentários
mais provocativos é o que se encontra no evangelho de Mateus, nos primeiros
versículos do capítulo 11. Trata-se de um questionamento do profeta João
Batista com relação ao ministério de Jesus. João estava preso, por denunciar os
pecados do governador Herodes, e de sua prisão envia alguns discípulos seus
interrogar Jesus: “És tu aquele que havia de vir ou esperamos outro?”. Essa
pergunta é um tanto quanto interessante, pois revela uma dúvida conceitual de
João: seria Jesus o libertados prometido por Deus? Para avaliar o teor do
questionamento, precisamos entender o contexto histórico e religioso da época.
Os judeus esperavam um enviado divino para trazer libertação, sobretudo
política, e assim restaurar o Estado de Israel. Jesus, no entanto, apesar de
seus feitos e discursos notáveis, não caminhava para essa direção. Certamente
João não duvidava da pessoa de Jesus, nem de que ele era o filho de Deus (ele
mesmo ouvira a voz de Deus em testemunho a esse fato). Sua expectativa é que
estava errada: ele não conseguia compreender o ministério daquele que era o
Cristo.
A reação de Jesus foi
surpreendente. Sua atitude imediata foi a de operar curas e sinais miraculosos
(Lucas 7:21), e então ordenou aos seguidores de João que transmitissem ao
profeta o que eles haviam presenciado. A isso, ele adicionou: “feliz é aquele
que não se escandaliza por minha causa". Com esse conjunto de ações, Jesus quis
dizer, em outras palavras: “Sou eu mesmo, e é isso o que vim fazer. Não vim
cumprir agenda política; não vim satisfazer necessidades imediatas. Vim para
trazer o reino de Deus, e feliz é aquele que compreende isso”. João Batista foi
confrontado com essa verdade. Ele precisou corrigir suas ideias sobre quem o
Cristo deveria ser.
Ainda nos dias atuais Jesus choca muitas pessoas. Seu
discurso de arrependimento, humildade e amor serviçal não têm popularidade em
um mundo saturado de autossuficiência e prepotência. Diante de tudo isso, resta
que indaguemos a nós mesmos: Qual é a nossa expectativa com relação ao Filho de
Deus? O que nós esperamos dele? Será que buscamos nEle algo que ele não se
propôs a oferecer? Será que aceitamos aquilo que ele verdadeiramente veio nos
ofertar? O propósito de sua vinda ainda é o mesmo, ele continua sendo o mesmo
(Hebreus 13:8).
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