Uma das maiores inquietações do ser humano diz respeito ao
sentido das coisas. Esse tópico talvez seja um dos grandes desafios
filosóficos, mas também se encontra impregnado no nosso modo de vida e até
mesmo no nosso subconsciente. Por mais que alguém possa negar inquietar-se com
tal assunto, inevitavelmente todos nós buscamos respostas, seja em uma atitude
contemplativa da vida, ou em alguma religião, ou através de crises pessoais.
Um dos livros da Bíblia, Eclesiastes, cuja autoria é
tradicionalmente atribuída ao sábio rei Salomão, trata basicamente sobre esse
assunto, utilizando exemplos cotidianos e observações do comportamento humano e
da natureza para examinar essa questão. Uma das conclusões que considero mais
impressionantes e provocativas está no capítulo 8, verso 17: “...percebi tudo o
que Deus tem feito. Ninguém é capaz de entender o que se faz debaixo do sol.
Por mais que se esforce para descobrir o sentido das coisas, o homem não o
encontrará. O sábio pode até afirmar que entende, mas, na realidade não o
consegue encontrar.” Que será que Salomão quis dizer com isso? Que estamos
condenados a uma vida sem significado, vazia de sentido? Certamente que não!
Examinando o livro de Eclesiastes, percebemos que há duas “veias” que correm
desse texto: uma delas é a constante repetição da sentença “isso também não faz
sentido” – sempre adjacente aos exemplos de incoerência, injustiça e maldade
que há no mundo; já a outra diz respeito aos prazeres que Deus concede ao ser
humano: comer, beber, alegrar-se com seu trabalho e aproveitar a vida com sua
família. Eclesiastes fala dos desafios que temos neste mundo. Fala das nossas
desilusões e lutas cotidianas, mas fala também das nossas alegrias passageiras.
Naquilo que até hoje consegui compreender e aprender do livro
de Eclesiastes, penso que sua essência de fato aponta para a transiência e
incompletude da nossa experiência terrena. Verdadeiramente o significado de
nossa existência não se encontra “debaixo do sol”. A existência da maldade
também macula os poucos reais motivos com que podemos nos alegrar, e mascara a
vaidade com aparência que nos satisfaça. E, apesar de tudo, a suprema conclusão
de Salomão, com todos os seus diagnósticos e pareceres, é: “Tema a Deus” (Ec
12:13). Num final de vida, em que já não há satisfação plena, o que remanesce é
a confiança e esperança em Deus, aquele que É, por excelência, a fonte de vida
e de significado.
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