Sucesso,
prosperidade material, conquistas pessoais e conforto individual parecem bandeiras
de alguma vertente capitalista, ou até mesmo de uma filosofia egocêntrica, como
o Objetivismo de Ayn Rand. Mas não são só isso. São slogans de famosas e crescentes denominações
ditas evangélicas. E com tais pilares em sua teologia arrebanham multidões
em busca de felicidade e fim do sofrimento pessoal. Deus, dizem eles (às vezes
nas entrelinhas, às vezes descaradamente), tem a obrigação de cooperar para o
sucesso pessoal de quem está comprometido com os “interesses do Reino”. Remetem
à época das Cruzadas e das indulgências, reconfiguradas para um “segundo tempo”.
Se aproveitando do fetiche brasileiro por amuletos, comercializam água, sal,
rosas, lenços, lâmpadas, e uma infinidade de objetos que garantem o bom sucesso
das campanhas pró-felicidade. E assim legitimam os anseios e cobiças mais
bizarros, despertam o pior lado do egoísmo humano e deturpam feroz e sutilmente
todas as mais essenciais bases dos ensinamentos de Jesus.
Muito
longe disso, encontram-se Jesus Cristo e seu evangelho de amor e graça. Há dois
milênios atrás, sua pregação já era subversiva e frequentemente gerava desde
desconforto até extrema irritação. Não hesitou em virar as mesas daqueles que
faziam comércio no templo de Deus, chamando-os de ladrões. Não titubeou ao
sugerir que um jovem rico vendesse tudo o que possuía e doasse aos pobres para
que então pudesse segui-lo. Sem eufemismos, disse a dois discípulos que queriam
destaque que aquele que quer ser grande deve se tornar o menor, o servo de
todos. Prometeu uma cruz a ser carregada a quem quisesse segui-lo e afirmou que
somente mediante o arrependimento podemos ver o Reino dos Céus.
Ao
comparar esses discursos se percebe claramente que possuem diferentes
freqüências, diferentes fontes. Soam diferentes porque possuem interesses e prioridades
distintas. Não há relação entre eles e, ao contrário do sincretismo comercial
assumido pela teologia da prosperidade, Jesus não admite coadjuvantes em sua
obra salvadora: “Ninguém vem ao Pai a não ser por mim” (João 14:6). Só quem
deposita extrema confiança e amor no dinheiro pode achar que alguns trocados
ofertados podem nos gerar bênçãos divinas. O cristianismo inaugurado em Jesus
aponta para uma vida inteira sob os cuidados de Deus. Aponta para o
arrependimento de obras mortas e a reconciliação com Deus através de Jesus. “Não será assim entre
vocês. Pelo contrário, quem quiser tornar-se importante entre vocês deverá ser
servo, e quem quiser ser o primeiro deverá ser escravo; como o Filho do homem,
que não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por
muitos” (Mateus 20:26-28).
Nenhum comentário:
Postar um comentário