domingo, 27 de março de 2011

O vício - The vice (below)

Saber definir emoções e sentimentos não é lá uma coisa fácil ou simples. Dissertar sobre elas ou concluir coisas acerca delas é ainda mais desafiador. Circunstâncias, lembranças e muitos outros fatores podem nos levar de uma emoção a outra, e, além disso, há aqueles momentos em que nos sentimos “estranhos”, desconfortáveis, etc. Realmente me instigam aquelas pessoas que aparentemente não se comovem com nada, não sofrem, não têm dias ruins, não se sentem “estranhos” às vezes. Me questiono se é assim mesmo ou se outras coisas se passam por trás de tudo.

Por várias vezes me pego analisando as coisas: observando pessoas, atitudes, modas, comportamentos e tendências. Observo também como o mundo gira, como as coisas acontecem ao nosso redor. Então me sinto vivendo uma realidade distorcida. Penso nas motivações dos nossos relacionamentos. Penso na “luta de classes”, na desigualdade social. Observo as pessoas ao meu redor (e me vejo nelas) e percebo como estão resignadas, acomodadas aos seus” destinos” tão carentes de vida. Parece que estamos destituídos de quem na verdade somos.

Lúcio Sêneca, filósofo latino, definiu essas condições que citei acima de uma forma que considero bastante completa:

Todos eles estão na mesma situação, tanto os que estão envergonhados por sua própria leviandade – pelo tédio e pela contínua mudança de propósitos, aos quais agrada sempre mais o que foi abandonado – quanto àqueles que relaxam e passam a vida bocejando. (...) São inúmeras as propriedades do vício, mas seu efeito é um só: o de aborrecer-se consigo mesmo. Isto nasce do desequilíbrio da alma e dos desejos tímidos ou pouco prósperos, visto que não ousam tanto quanto desejam ou não o conseguem. Dessa forma realizam-se apenas na esperança. Sempre são instáveis e volúveis. Por todas as vias tentam realizar seus desejos. Eles se instruem e se conduzem para coisas desonestas e difíceis e, quando o seu trabalho é frustrado, atormentam-se não por terem desejado o mal, mas por tê-lo desejado em vão.
Então eles se arrependem de terem recomeçado e temem recomeçar. Daí advém uma agitação que não encontra saída, porque não podem nem dominar nem se submeter aos seus desejos. Em conseqüência, reflete-se a indecisão de uma vida que pouco se expande e o torpor de uma alma em meio aos seus desejos fracassados.
(...) não suportando nada por muito tempo e fazendo das mudanças lenitivo para suas dores.

(trecho do livro “Da tranqüilidade da alma”,p.42ss, publicado pela coleção L&M POCKET)

Isso que mais me comove e incomoda quando reflito sobre a humanidade é o que Sêneca chamou de “vício” ou “tédio”. Quem de nós não se identifica, ao menos parcialmente, com os diagnósticos do filósofo? Quem de nós nunca teve seus desejos fracassados ou fez das mudanças lenitivo para suas dores?

Mas a questão principal é: até que ponto nos conformamos com isso? Até quando viveremos isso?


The Vice

Knowing how to define emotions and feelings is not an simple or easy thing to do. To expatiate about them or to conclude things about them is even more challenging. Circumstances, memories and many other factors can lead us from one feeling to another, and, furthermore, there are those moments in which we feel “strange”, uncomfortable, just to point some emotions. It really incites me those people who apparently are not moved by anything, who do not suffer, do not have bad days, do not feel “strange” sometimes. I ask myself if it´s really like that or if there’s something else behind that appearance.

Several times I catch myself analyzing things: observing people, attitudes, fashions, behaviours and tendencies. I gaze also the way world spins, the way things happen around us. Then I feel like I’m living a distorted reality. I think about the “class struggle”, about the social inequality. I observe people around me ( and I see myself in them) and I realize how resigned they are, comfortable on their lifeless “destinies”. It seems we are deprived of who we are.

Seneca, an Latin philosopher, defined these conditions I pointed above in a way I find very proper:

All are in the same condition, not only those who are troubled with fickleness and disgust and a constant change of purpose, who are always better pleased with what they have given up, but also those who are languid and sleepy. (…)Moreover, there are countless peculiarities of the disease, but only one effect,--to be dissatisfied with themselves. This arises from a lack of proper control over the mind, from faint-hearted and unrealized desires; on this account they either date not do as much as they desire or fail of success and live entirely upon hope, and are always fickle and vacillating, which necessarily befalls those who are in suspense in regard to the accomplishment of their wishes; they spend their whole life in this way and teach and compel themselves to use dishonorable and difficult means; and when their effort is without reward, useless disgrace vexes them, and they regret not that they have done wrong, but that they have wished for it in vain. Then repentance for what they have begun, and fear of beginning something new restrains them, and there gradually steals over them that vacillation of mind which finds no end, because they can neither command nor obey their passions, the dallying of a life which is not developing itself, and the dullness of a mind which is becoming torpid amid its disappointed hopes.
(…)enduring nothing long and using changes as remedies.

(taken from http://www.molloy.edu/sophia/seneca/tranquility.htm on 27th march, 2011 - Book “ On tranquility of mind” – De tranquillitate animi)

That thing, which most move and bother me when I think about humanity is what Seneca called “vice” or “fickleness”. Who of us do not identify, at least partially, with the philosopher’s diagnosis? Who of us has never had their wishes frustrated or used changes as remedies?

But the main question is: for how long will we be resigned to this? How far will we live this?

quarta-feira, 23 de março de 2011

Por que?

Pessoal, resolvi postar hoje alguns pensamentos que tive alguns dias atrás.

Olhos cheios e o coração vazio
As conquistas, nada são além de pó
E tantos sonhos não passam de ilusão
Tudo é vaidade!

Por que não posso desejar só que amo?
E por que não consigo amar só o que é puro?
Por que não me contento com o que tenho?
Por que não se satisfazem os olhos com o que é belo?

Por que não se farta o coração com o que é singelo?
Por que guardar rancor se há perdão?
Por que tanto lutar pelo que é vão?
Por que há cobiça onde há abundância?



Acho que todos os questionamentos que tivermos sobre a vida, desde que sinceros, podem nos levar a uma maior compreensão daquilo que ela abrange. De modo semelhante, reflexões sobre nossos atos e motivações podem revelar coisas sobre nós, bem como nos indicar melhores caminhos pelos quais podemos conduzir nossas vidas.

quinta-feira, 10 de março de 2011

Uma questão de necessidade!

Pessoal, resolvi voltar a escrever. Agora que possuo mais tempo livre, quero dedicá-lo, em parte, à essa função que me edifica tanto. Vou tratar de temas filosóficos, sociais, educacionais e, obviamente, meteorológicos (minha formação).

Hoje resolvi postar um texto que escrevi há vários anos, no ensino médio. É um artigo de filosofia que apresentei em uma espécie de "mini-congresso" que tivemos no então denominado CEFET-RS. Espero que leiam e comentem.


Uma questão de ... Necessidade!!


Introdução:

Pretendo, a partir deste trabalho, apresentar e explorar algumas das questões que vejo ser de imensurável importância na vida de qualquer ser humano, questões estas que tangem a existência e significado da vida humana, e analisa-las à luz das nossas necessidades enquanto seres humanos. Para justificar essa minha escolha, cito Maslow:

“É inteiramente verdadeiro que o homem vive apenas de pão – quando não há pão. Mas o que acontece com os desejos do homem quando há muito pão e sua barriga está cronicamente cheia? Imediatamente emergem outras (e superiores) necessidades e são essas, em vez de apetites fisiológicos, que dominam o seu organismo. E quando elas, por sua vez, são satisfeitas, novamente novas (e ainda superiores) necessidades emergem e assim por diante”(Maslow, Motivation and Personality, New York: Harper and Row, pg 38, citado por Fadiman e Frager, Teorias da Personalidade, 1979, Harbra).

Desenvolvimento:

Breve exposição do trabalho de Abraham Maslow

Maslow expôs, em sua pesquisa, uma hierarquia das necessidades humanas, que devem ser supridas a fim de que o indivíduo possa desfrutar de uma vida plena. Ele as classificou assim:

- necessidades fisiológicas, tais quais fome, sono, etc;
- necessidade de segurança, como estabilidade;
- necessidade de amor e pertinência, como a família e as amizades;
- necessidade de estima, de aprovação e auto-respeito;
- necessidades de auto-atualização, terminologia que remonta a filosofia aristotélica de potência e ato. É a utilização das potências humanas, que promoverão o desenvolvimento.

Para Maslow esses seriam os “ingredientes” para uma vida completa em seu significado e repleta de satisfação. Ele ainda sugeriu o termo “metamotivação”, que é referente ao comportamento inspirado por valores e necessidades de crescimento, e toma a forma de ideais ou metas que produzem um sentimento de realização pessoal. Ele também propõe a existência de “queixas” e “metaqueixas”, que se referem à reclamações geradas por necessidades frustradas. As queixas se devem à níveis mais básicos na escala de necessidades; já as metaqueixas demonstram um nível mais profundo de necessidades, como a necessidade de perfeição, justiça e verdade, visto que as necessidades “inferiores” já foram satisfeitas.
Motivações que nos movem à busca de metas positivas e que vão além de uma simples gratificação de necessidades são denominadas por Maslow de “motivação do ser”, superior à “motivação de deficiência”, visto que esta existe como um meio de satisfazer necessidades frustradas ou privadas. A “cognição de deficiência” os objetos são tidos como meros preenchedores de necessidades, levando o indivíduo a olhar à sua volta com a perspectiva da necessidade. Por outro lado, a “cognição do ser” valoriza aquilo que é, sem buscar harmonizar as coisas com as suas necessidades, fazendo com que a percepção seja mais rica e completa. Ele também analisou o amor na vida das pessoas e chamou de “amor de deficiência” aquele amor que só existe devido à uma necessidade interna de ser aceito ou de ser amado em troca, e nomeou de “amor do ser” o amor que é desinteressado, que busca o bem do outro, o amor altruísta. Maslow vê o ser humano como auto-suficiente e como bom por essência.

Diante do trabalho de Abraham Maslow podemos perceber que o ser humano é repleto de carências, de necessidades que vão desde as mais simples até as mais complexas. Podemos ver que existem dois tipos de manifestações nos nossos pensamentos, sentimentos e atitudes: um deles são as manifestações decorrentes da nossa própria necessidade e o outro é oriundo de fatores extra-necessidade, ou mais “sublimes”.

Olhando mais a fundo

Gostaria de refletir um pouco, seguindo essa linha de pensamento orientada pela necessidade, sobre a urgência do homem em saber o motivo da sua existência. Martin Heidegger afirmou não ser relevante a origem do ser, o importante é que ele existe e está aí; mas devo fazer uma objeção a esse pensamento. A origem do ser é, sim, uma incógnita muito relevante, a menos que se queira simplesmente “estar aí”, porque a origem do ser é o que define o propósito da sua existência. Vamos definir alguns conceitos:

Meta: Lugar definitivo ou intermediário aonde eu quero chegar. Responde a pergunta aonde?

Objetivo: Está relacionado com o que se pretende caso a meta seja alcançada. Responde à pergunta para quê?

Propósito: É a programação interior que me coloca em movimento em certa direção. É a razão por que algo existe. Responde à pergunta por quê?

Qual seria a necessidade mais profunda de um ser humano? Ouso afirmar que o trabalho de Maslow, embora muito profundo e pertinente, ficou incompleto, pois aquilo que gera a real sensação de realização e o sentimento de uma vida com significado em uma pessoa é o conhecimento do porquê da sua existência. Pois, afinal, só nos sentimos realizados ao cumprir uma tarefa se soubermos o motivo pelo qual a realizamos e se formos bem-sucedidos em seu cumprimento.

Analisando a nossa sociedade, observamos que os nossos relacionamentos estão cada vez mais objetivados, são cada vez mais motivados pela “deficiência”, pelas nossas carências do que pelo amor verdadeiro. Ao olharmos para as coisas, para as pessoas e para as circunstâncias só conseguimos enxergar objetos que podem saciar os nossos anseios, mesmo que não saibamos bem na verdade quais são eles.

Retomando os conceitos acima citados, somos capazes de notar que nós, os seres humanos em geral, temos estipulado objetivos para as nossas vidas, como ter um bom emprego, com um ótimo salário para viver confortavelmente, e traçado metas para alcançar esses objetivos, como estudar muito, economizar, etc. Mas está faltando algo nisso tudo. Falta um propósito. Falta saber o porquê da existência.

Eu disse a mim mesmo: Venha. Experimente a alegria. Descubra as coisas boas da vida! Mas isso também se revelou inútil. Concluí que o rir é loucura, e a alegria de nada vale. Decidi entregar-me ao vinho e à extravagância, mantendo, porém, a mente orientada pela sabedoria. Eu queria saber o que vale a pena, debaixo do céu, nos poucos dias da vida humana.
“Lancei-me em grandes projetos: construí casas e plantei vinhas para mim. Comprei escravos e escravas (...). além disso, tive também mais bois e ovelhas do que todos os que viveram antes de mim em Jerusalém. Ajuntei para mim prata e ouro, tesouros de reis e de províncias. Servi-me de cantores e cantoras, e também de um harém, as delícias dos homens. Não me neguei nada que os meus olhos desejaram; não me recusei a dar prazer algum ao meu coração. Contudo, quando avaliei tudo o que as minhas mãos haviam feito e o trabalho que eu tanto me esforçara para realizar, percebi que tudo foi inútil, foi correr atrás do vento...” (Salomão, Eclesiastes 2 – trecho selecionado, Bíblia, NVI, Vida)

Posso até mesmo parecer um pouco inconveniente, mas a questão fica ainda mais difícil, ou ainda, impossível de ser resolvida se tentarmos excluir Deus da “jogada”. “A menos que se admita a existência de Deus, a questão que se refere ao propósito para a vida não tem sentido” (Bertrand Russell, filósofo ateu. Não possuo o endereço dessa citação).

“...Há muitos anos que eu não venho sentindo excitação ao ouvir ou fazer música, bem como ler ou escrever... Eu sou sensível demais. Preciso ficar um pouco dormente para ter de volta o entusiasmo que eu tinha quando criança... Eu tive muito, muito mesmo, e sou grato por isso, mas desde os sete anos de idade passei a ter ódio de todos os humanos em geral... Eu sou mesmo um bebê errático e triste! Não tenho mais a paixão, então lembrem: é melhor queimar do que apagar aos poucos...” (Kurt Cobain, em sua carta-suicida)

Nesse exemplo real de Kurt Cobain percebemos claramente uma necessidade gritante por significado na vida. Sem a obtenção de respostas, buscava alívio recorrendo às drogas.

“quando cai a noite, sobra tempo para buscar o sentido da vida, será que alguma vez eu não me senti solitaria? pois muitas vezes, mesmo acompanhada, estava só,nem mesmo sei o que busco, hoje minha unica compania são meus livros, estou kda vez pior, não faço idéia de como isso acabara. “ (orkut, comunidade solidão)

“(Deus)Também pôs no coração do homem o anseio pela eternidade; mesmo assim ele não consegue compreender inteiramente o que Deus fez” (Bíblia, Eclesiastes 3:11, NVI, Vida).

Conclusão

Somente Deus (não me refiro a um deus genérico, muito menos laico, mas a O Deus verdadeiro e onipotente) é capaz de dar sentido pleno e significado completo à nossa vida. De fato, Deus é o divisor de águas, é o ponto chave: aceitar ou rejeitar a sua existência muda completamente os fatos. Mudou para mim.


Bibliografia:
- Teorias da Personalidade, Fadiman, J e Frager, R, 1979, Harbra
- Bíblia Sagrada, 2000, Nova Versão Internacional, Vida
- Carta suicida de Kurt Cobain