domingo, 3 de agosto de 2014

O sentido das coisas

Uma das maiores inquietações do ser humano diz respeito ao sentido das coisas. Esse tópico talvez seja um dos grandes desafios filosóficos, mas também se encontra impregnado no nosso modo de vida e até mesmo no nosso subconsciente. Por mais que alguém possa negar inquietar-se com tal assunto, inevitavelmente todos nós buscamos respostas, seja em uma atitude contemplativa da vida, ou em alguma religião, ou através de crises pessoais.

Um dos livros da Bíblia, Eclesiastes, cuja autoria é tradicionalmente atribuída ao sábio rei Salomão, trata basicamente sobre esse assunto, utilizando exemplos cotidianos e observações do comportamento humano e da natureza para examinar essa questão. Uma das conclusões que considero mais impressionantes e provocativas está no capítulo 8, verso 17: “...percebi tudo o que Deus tem feito. Ninguém é capaz de entender o que se faz debaixo do sol. Por mais que se esforce para descobrir o sentido das coisas, o homem não o encontrará. O sábio pode até afirmar que entende, mas, na realidade não o consegue encontrar.” Que será que Salomão quis dizer com isso? Que estamos condenados a uma vida sem significado, vazia de sentido? Certamente que não! Examinando o livro de Eclesiastes, percebemos que há duas “veias” que correm desse texto: uma delas é a constante repetição da sentença “isso também não faz sentido” – sempre adjacente aos exemplos de incoerência, injustiça e maldade que há no mundo; já a outra diz respeito aos prazeres que Deus concede ao ser humano: comer, beber, alegrar-se com seu trabalho e aproveitar a vida com sua família. Eclesiastes fala dos desafios que temos neste mundo. Fala das nossas desilusões e lutas cotidianas, mas fala também das nossas alegrias passageiras.

Naquilo que até hoje consegui compreender e aprender do livro de Eclesiastes, penso que sua essência de fato aponta para a transiência e incompletude da nossa experiência terrena. Verdadeiramente o significado de nossa existência não se encontra “debaixo do sol”. A existência da maldade também macula os poucos reais motivos com que podemos nos alegrar, e mascara a vaidade com aparência que nos satisfaça. E, apesar de tudo, a suprema conclusão de Salomão, com todos os seus diagnósticos e pareceres, é: “Tema a Deus” (Ec 12:13). Num final de vida, em que já não há satisfação plena, o que remanesce é a confiança e esperança em Deus, aquele que É, por excelência, a fonte de vida e de significado.