quarta-feira, 5 de novembro de 2014

Comfortably numb

Como já cantava a consagrada banda inglesa Pink Floyd no final da década de 70 “I have become comfortably numb...” (“Eu me tornei confortavelmente insensível, cauterizado, vazio”). Ao que me parece, quanto mais avançamos no tempo, essa é uma situação cada dia mais freqüente. A cada dia que passa, a cada geração que surge, mais instrumentos anestésicos se formam para insensibilizar toda a dor do ser humano. Isso por si só já é um problema, pois a dor é um mecanismo importante de defesa da vida; contudo, além disso, essa anestesia nos torna apáticos a todo o resto. E nos conformamos, acostumamo-nos e até ficamos confortáveis com essa situação. Prova disso são os crescentes usos e abusos de drogas lícitas e ilícitas, remédios e meios de entretenimento, que 24h por dia nos distraem da dor, dos sentimentos, dos conflitos, e nos levam a um ciclo que parece eterno (mas não é) de fuga, de inconstância. Vivemos em movimento, a quietude nos incomoda. A história comprova isso.
O livro de Eclesiastes fala muito sobre isso. Seu assunto principal trata de como tantas coisas que tão ansiosamente e angustiadamente buscamos não passam de uma “corrida atrás do vento”. O próprio autor do livro, o rei Salomão, relata que por muito tempo se dedicou a “buscar a alegria, as coisas boas da vida”: construiu casas, plantou pomares, adquiriu bens, conquistou mulheres, entregou-se à embriaguez. Não negou nada que seus olhos desejassem. Entretanto, concluiu que isso de nada lhe servira; o melhor que conquistou foi uma porção de alegria passageira, e nada mais.
O evangelho de Jesus Cristo propõe ao homem um encontro com o Criador de todas as coisas, aquele que pode dar real significado à vida. O preço que Jesus pagou ao morrer na cruz foi para nos libertar da nossa “maneira vazia de viver, que por tradição herdamos de nossos antepassados”. Ele afirmou: “Eu vim para que tenham vida plena”, e disse que ele jamais rejeitaria quem se achegasse a ele. Sua graça vem ao encontro de nossos anseios mais profundos, nossa busca por paz, por significado na vida, nosso desejo por justiça. Não precisamos mais nos conformar ao vazio existencial! Hoje é o dia de se libertar da anestesia, do vazio. Se tens dúvida sobre esse assunto, se queres saber mais, estou à disposição através do endereço eletrônico bkbainy@hotmail.com .

domingo, 7 de setembro de 2014

O escândalo de João Batista

Uma dos relatos neotestamentários mais provocativos é o que se encontra no evangelho de Mateus, nos primeiros versículos do capítulo 11. Trata-se de um questionamento do profeta João Batista com relação ao ministério de Jesus. João estava preso, por denunciar os pecados do governador Herodes, e de sua prisão envia alguns discípulos seus interrogar Jesus: “És tu aquele que havia de vir ou esperamos outro?”. Essa pergunta é um tanto quanto interessante, pois revela uma dúvida conceitual de João: seria Jesus o libertados prometido por Deus? Para avaliar o teor do questionamento, precisamos entender o contexto histórico e religioso da época. Os judeus esperavam um enviado divino para trazer libertação, sobretudo política, e assim restaurar o Estado de Israel. Jesus, no entanto, apesar de seus feitos e discursos notáveis, não caminhava para essa direção. Certamente João não duvidava da pessoa de Jesus, nem de que ele era o filho de Deus (ele mesmo ouvira a voz de Deus em testemunho a esse fato). Sua expectativa é que estava errada: ele não conseguia compreender o ministério daquele que era o Cristo.
A reação de Jesus foi surpreendente. Sua atitude imediata foi a de operar curas e sinais miraculosos (Lucas 7:21), e então ordenou aos seguidores de João que transmitissem ao profeta o que eles haviam presenciado. A isso, ele adicionou: “feliz é aquele que não se escandaliza por minha causa". Com esse conjunto de ações, Jesus quis dizer, em outras palavras: “Sou eu mesmo, e é isso o que vim fazer. Não vim cumprir agenda política; não vim satisfazer necessidades imediatas. Vim para trazer o reino de Deus, e feliz é aquele que compreende isso”. João Batista foi confrontado com essa verdade. Ele precisou corrigir suas ideias sobre quem o Cristo deveria ser.

Ainda nos dias atuais Jesus choca muitas pessoas. Seu discurso de arrependimento, humildade e amor serviçal não têm popularidade em um mundo saturado de autossuficiência e prepotência. Diante de tudo isso, resta que indaguemos a nós mesmos: Qual é a nossa expectativa com relação ao Filho de Deus? O que nós esperamos dele? Será que buscamos nEle algo que ele não se propôs a oferecer? Será que aceitamos aquilo que ele verdadeiramente veio nos ofertar? O propósito de sua vinda ainda é o mesmo, ele continua sendo o mesmo (Hebreus 13:8).

domingo, 3 de agosto de 2014

O sentido das coisas

Uma das maiores inquietações do ser humano diz respeito ao sentido das coisas. Esse tópico talvez seja um dos grandes desafios filosóficos, mas também se encontra impregnado no nosso modo de vida e até mesmo no nosso subconsciente. Por mais que alguém possa negar inquietar-se com tal assunto, inevitavelmente todos nós buscamos respostas, seja em uma atitude contemplativa da vida, ou em alguma religião, ou através de crises pessoais.

Um dos livros da Bíblia, Eclesiastes, cuja autoria é tradicionalmente atribuída ao sábio rei Salomão, trata basicamente sobre esse assunto, utilizando exemplos cotidianos e observações do comportamento humano e da natureza para examinar essa questão. Uma das conclusões que considero mais impressionantes e provocativas está no capítulo 8, verso 17: “...percebi tudo o que Deus tem feito. Ninguém é capaz de entender o que se faz debaixo do sol. Por mais que se esforce para descobrir o sentido das coisas, o homem não o encontrará. O sábio pode até afirmar que entende, mas, na realidade não o consegue encontrar.” Que será que Salomão quis dizer com isso? Que estamos condenados a uma vida sem significado, vazia de sentido? Certamente que não! Examinando o livro de Eclesiastes, percebemos que há duas “veias” que correm desse texto: uma delas é a constante repetição da sentença “isso também não faz sentido” – sempre adjacente aos exemplos de incoerência, injustiça e maldade que há no mundo; já a outra diz respeito aos prazeres que Deus concede ao ser humano: comer, beber, alegrar-se com seu trabalho e aproveitar a vida com sua família. Eclesiastes fala dos desafios que temos neste mundo. Fala das nossas desilusões e lutas cotidianas, mas fala também das nossas alegrias passageiras.

Naquilo que até hoje consegui compreender e aprender do livro de Eclesiastes, penso que sua essência de fato aponta para a transiência e incompletude da nossa experiência terrena. Verdadeiramente o significado de nossa existência não se encontra “debaixo do sol”. A existência da maldade também macula os poucos reais motivos com que podemos nos alegrar, e mascara a vaidade com aparência que nos satisfaça. E, apesar de tudo, a suprema conclusão de Salomão, com todos os seus diagnósticos e pareceres, é: “Tema a Deus” (Ec 12:13). Num final de vida, em que já não há satisfação plena, o que remanesce é a confiança e esperança em Deus, aquele que É, por excelência, a fonte de vida e de significado.

domingo, 6 de julho de 2014

Narciso, seu espelho, e o egoísmo nosso de cada dia

A mitologia grega conta de um jovem que se considerava tão belo que sua beleza só poderia se comparar à dos deuses. Após rejeitar o amor de uma ninfa, em virtude se achar incomparável, Narciso foi alvo de uma maldição, a de se apaixonar por sua própria imagem. Certo dia, o belo rapaz teria se debruçado sobre uma fonte de águas para beber, e, ao contemplar sua própria imagem, foi por ela seduzido e permaneceu em contemplação até morrer. Pode até parecer absurdo, mas temos tanto de Narciso em nós mesmos que nem damos conta de perceber. Nosso sofrimento é sempre pior do que o do outro. A alegria do outro é fútil, mas a minha tem fundamento. Quando o outro está com pressa, “azar o dele”, mas quando eu estou apressado é por uma necessidade real. “Narciso acha feio tudo o que não é espelho”, diz uma música, e, com efeito, nós também tendemos a ignorar ou menosprezar aquilo que não aponta pra nós.
Apaixonados por nós mesmos como por encanto, parecemos incapazes de recuar do reflexo de nossa própria figura. E nesse contexto egocêntrico, em que tudo o que enxergo remete a mim mesmo, nada mais natural do que buscar a auto-satisfação e auto-gratificação, confundindo essa busca com o próprio sentido da vida. Desde a antiguidade surgiram até mesmo correntes filosóficas formais que estabeleceram o prazer como bem supremo, como o Hedonismo grego e o Utilitarismo britânico. Embora essas doutrinas, em alguns pontos, incluam aspectos sociais de benefício mútuo, elas apontam de forma muito mais enfática para o bem-estar e felicidade individuais em detrimento do coletivo, além de tornar subjetivos os critérios éticos e morais.

Onde essa atitude interior e esse modo de viver nos levam? “De onde vêm as guerras e contendas que há entre vocês? Não vêm das paixões que guerreiam dentro de vocês? Vocês cobiçam coisas, e não as têm; matam e invejam, mas não conseguem obter o que desejam. Vocês vivem a lutar e a fazer guerras. Não têm, porque não pedem. Quando pedem, não recebem, pois pedem por motivos errados, para gastar em seus prazeres”, é o que escreveu Tiago em sua carta (Tg 4:1-3), fazendo perguntas que respondem a si mesmas, apontando o perigo do egoísmo narcisista. Muitas vezes utilizamos até a nossa fé em Deus como instrumento de conquistas pessoais. A vida que todos nós procuramos não está na gratificação pessoal. Quanto mais buscamos e cavocamos em nós mesmos, mais nos perdemos e nos distanciamos da essência da vida, mais ambiciosos e fúteis nos tornamos. Precisamos nos afastar desse espelho, voltar nossos olhares para Deus, o autor e mantenedor da vida, e para o nosso próximo, a quem nos foi dada a tarefa de amar.

domingo, 4 de maio de 2014

Se eu digo a verdade, por que vocês não acreditam?

Poucas situações são tão incômodas quanto aquelas em que não somos acreditados. Seja em uma falsa acusação, em que inutilmente tentamos rebater argumentos, seja em um alerta ou conselho dado, em que com argumentos buscamos convencer alguém sobre algum risco ou sobre o melhor caminho a ser tomado. A falta de confiança ou de crédito em nossas palavras fere nossa dignidade, principalmente quando nosso estilo de vida mostra a nossa sinceridade e boas intenções.
Muita gente admite que Jesus foi um ser humano exemplar, acredita nele como uma espécie de profeta ou “espírito iluminado”. Cabe aqui dizer que ele nunca reivindicou algum desses títulos. O evangelho de João, todavia, relata vários episódios nos quais Cristo afirma quem realmente é: o Filho de Deus. E é notável o embate que se forma entre Jesus, defendendo sua identidade e sua missão, e os líderes religiosos judeus, que tentavam provar que ele era uma fraude, com destaque para os relatos dos capítulos de 6 a 9. Um dos ápices está no capítulo 8, versículo 46: “Qual de vocês pode me acusar de algum pecado? Se estou falando a verdade, por que vocês não crêem em mim?”. Ambas as perguntas soam retóricas; não parece haver necessidade de resposta, pois elas objetivaram confrontar a incredulidade dos judeus. A primeira delas diz respeito ao caráter do Cristo: a árvore é conhecida pelos frutos, e não havia nada nele que o pudesse condenar ou invalidar seus ensinamentos e suas palavras. Pelo contrário, suas boas obras, sábias palavras e os sinais que fazia só poderiam ser vindos do próprio Deus. A segunda pergunta vai de encontro ao âmago da questão: ninguém poderia desacreditá-lo, a não ser com mentiras ou estórias inventadas, mas mesmo assim as pessoas encontravam dificuldades em crer nele. Ninguém conseguia contestar sua sabedoria, e pouquíssimos rejeitariam seus milagres. Mas a grande maioria dos que conviveram com ele, mesmo os que foram beneficiados por suas obras, nunca o conceberam como quem Ele mesmo afirmava ser, Filho de Deus, Redentor da humanidade, único caminho para o Pai. E ainda hoje é assim. Jesus “veio para o que era seu. Mas os seus não o receberam. Contudo, aos que o receberam, aos que creram em seu nome, deu-lhes o direito de se tornarem filhos de Deus” (João 1:11,12). Ele não está interessado em admiradores, e muito menos em palavras de afirmação, mas em corações que creiam.

O fato é que a verdade está aí, absoluta e independente se acreditamos nela ou não. Mas se lhe dermos uma chance, o conhecê-la e o vivenciá-la têm poder para mudar nossa vida pra melhor. E você, vai acreditar?

quarta-feira, 16 de abril de 2014

A Entropia e uma extrapolação


Uma das variáveis mais importantes no estudo da física, química e das outras ciências naturais é a entropia. Sua interpretação não é muito simples, mas possui algumas particularidades muito interessantes. De forma bastante simplificada, uma delas diz respeito ao grau de ordem ou desordem (em nível de partículas) de um sistema termodinâmico em transformação. Se essa transformação for reversível, a variação da entropia do sistema e suas redondezas é igual a zero, e o sistema não aumenta em ordem ou desordem; se essa transformação for irreversível, a entropia desse sistema aumenta, bem como seu grau de desordem interna. A entropia de um sistema nunca diminui, e isso significa que, a não ser que haja uma influência externa, ele nunca vai se reordenar espontaneamente, e ao fim dessa transformação haverá uma certa quantidade de energia que está presente no sistema, mas não está disponível para levá-lo ao estado original.
Esperando não ser uma comparação bizarra, percebo que a vida humana também possui sua espécie de “entropia”. Baseio essa comparação em fatos análogos aos supracitados, com a ressalva que, de forma mais geral, os processos em nossa vida são irreversíveis e que frequentemente acrescentamos-lhe “desordem” e “bagunça”. Além disso, sempre parece que por mais energia que tenhamos e empreguemos para organizá-la e melhorá-la, nunca obtemos sucesso pleno. É o que o filósofo Lúcio Sêneca denomina vício ou tédio: a inconstância dos propósitos, a inquietação da alma frente suas próprias limitações, incoerências e falhas. Para completar a alegoria, penso na energia externa que pode restaurar um sistema ao seu estado inicial e original como a ação do próprio Deus.  


Cada um de nós possui seu grau de desordem, muitos lutam para corrigi-lo. No entanto, sozinhos não podemos ir muito longe – faz-se até uma ironia amarga o fato de criarmos mais desordem do que possamos dar conta. Deus, em Jesus Cristo, oferece sua graça: “Para isso se manifestou o filho de Deus: para destruir as obras do diabo” (I Jo. 3:8b) e “Onde aumentou o pecado, transbordou a graça” (Romanos 5:20). Se o leitor reconhece que em sua vida há desordem que precisa ser desfeita, e talvez até já tentou desfazê-la com suas próprias forças, saiba que há um Deus que habita nos altos céus, mas também com o humilde de espírito que pode e deseja ajudar. Lembre-se de que, quando a terra estava “vazia e sem forma”, em meio ao caos e desordem, a Palavra de Deus criou ordem. Lembre-se do Amor que se personificou, e ainda hoje vem ao seu encontro de braços abertos.

terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

Cristianismo de qualquer jeito?

Sucesso, prosperidade material, conquistas pessoais e conforto individual parecem bandeiras de alguma vertente capitalista, ou até mesmo de uma filosofia egocêntrica, como o Objetivismo de Ayn Rand. Mas não são só isso. São slogans de famosas e crescentes denominações ditas  evangélicas. E com tais pilares em sua teologia arrebanham multidões em busca de felicidade e fim do sofrimento pessoal. Deus, dizem eles (às vezes nas entrelinhas, às vezes descaradamente), tem a obrigação de cooperar para o sucesso pessoal de quem está comprometido com os “interesses do Reino”. Remetem à época das Cruzadas e das indulgências, reconfiguradas para um “segundo tempo”. Se aproveitando do fetiche brasileiro por amuletos, comercializam água, sal, rosas, lenços, lâmpadas, e uma infinidade de objetos que garantem o bom sucesso das campanhas pró-felicidade. E assim legitimam os anseios e cobiças mais bizarros, despertam o pior lado do egoísmo humano e deturpam feroz e sutilmente todas as mais essenciais bases dos ensinamentos de Jesus.
Muito longe disso, encontram-se Jesus Cristo e seu evangelho de amor e graça. Há dois milênios atrás, sua pregação já era subversiva e frequentemente gerava desde desconforto até extrema irritação. Não hesitou em virar as mesas daqueles que faziam comércio no templo de Deus, chamando-os de ladrões. Não titubeou ao sugerir que um jovem rico vendesse tudo o que possuía e doasse aos pobres para que então pudesse segui-lo. Sem eufemismos, disse a dois discípulos que queriam destaque que aquele que quer ser grande deve se tornar o menor, o servo de todos. Prometeu uma cruz a ser carregada a quem quisesse segui-lo e afirmou que somente mediante o arrependimento podemos ver o Reino dos Céus.
 Ao comparar esses discursos se percebe claramente que possuem diferentes freqüências, diferentes fontes. Soam diferentes porque possuem interesses e prioridades distintas. Não há relação entre eles e, ao contrário do sincretismo comercial assumido pela teologia da prosperidade, Jesus não admite coadjuvantes em sua obra salvadora: “Ninguém vem ao Pai a não ser por mim” (João 14:6). Só quem deposita extrema confiança e amor no dinheiro pode achar que alguns trocados ofertados podem nos gerar bênçãos divinas. O cristianismo inaugurado em Jesus aponta para uma vida inteira sob os cuidados de Deus. Aponta para o arrependimento de obras mortas e a reconciliação com Deus através de Jesus. “Não será assim entre vocês. Pelo contrário, quem quiser tornar-se importante entre vocês deverá ser servo, e quem quiser ser o primeiro deverá ser escravo; como o Filho do homem, que não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos” (Mateus 20:26-28).